Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

TERRA MOLHADA

PROMESSA DE FRUTOS MADUROS, DE ABUNDANTES COLHEITAS... BÊNÇÃO DAS PRIMEIRAS CHUVAS DE VERÃO... DOCE PERFUME DE TERRA MOLHADA...

TERRA MOLHADA

PROMESSA DE FRUTOS MADUROS, DE ABUNDANTES COLHEITAS... BÊNÇÃO DAS PRIMEIRAS CHUVAS DE VERÃO... DOCE PERFUME DE TERRA MOLHADA...

TETRAEDRO DE FOGO...

REC_1.png

Nos teus olhos a negação

Pode ser percalço

Porém vou no encalço

E em reflexa reacção

Transformo o teu não

Onde adivinho indecisão

Em lenta degustação

Em deleitada fruição

Ainda contida

Mas agora consentida

Progressão

Palpação

Avaliação

E na clara percepção

Da tua palpitação

Diagnostico e prescrevo

A medicação

Porque o não

Nunca foi mesmo opção

Prolongamos a contenção

Do tântrico momento

Num século de fruição.

Até à ignição

À explosão

À combustão

Um minuto mil um milhão

Precedem a exaustão

Ou não

Porque a todo o momento

O reacendimento

Pode ocorrer

Se activo permanecer

O triângulo de fogo

(Tu e eu combustível 

Eu e tu comburente

E calor de nós dois)

Só haverá epílogo

Quando um dos dois

Aceitar o depois

Isto se não acontecer

Que entre o querer e o poder

Inesperada

Incontrolada

A triangular combustão

Vire tetraédrica reacção

Que nem o mútuo querer

Seja capaz de conter

(E sendo assim

O teu sim

Ou teu não

O meu não 

Ou o meu sim

Deixam de ser opção)


Uma abordagem poética  sobre a definição conceptual da química do fogo (a minha 'costela' de formador na prevenção de incêndios...).

EQUILÍBRIO INSTÁVEL

Nuvem

Inoportuna Interposição

Entre o meu sim e o teu não

Barreira

Cabeça e coração

Velocidade e travão

Conflito

Desejo inibição

Imposta rejeição

Correlação

No nosso desigual querer

Sofrida hesitação

A que leio no teu não

Difícil a opção

Entre céu e razão

Sim ou talvez não

Impõe-se a mente

Claudica o coração

E fora de questão

Fica o meu querer

Amor desejo prazer

Deixarão pois de ser

A única opção

Se com isso eu puder

Amar-te sem te ter


O poeta é um desalinhado: no monogâmico mundo civilizado, ele é o único a poder por 'direito natural', repartir a alma e o coração com vários seres amados, em simultâneo. 

O poeta nunca trai porque ama com a alma, mesmo quando a alma é todo o seu corpo fremente...

MOMENTO ÍNTIMO...

Amor dor amor prazer

Dor de te não ter

Por auto imposição

Por abdicação

Prazer

Se às convenções disser não

Se escolher a emoção

Amor dividido

Entre o amor proibido

E o que nos é permitido

No contrato promessa

Assumido na pressa

De fotógrafos apressados

Da gula dos convidados

Mas amor que fosse

Naquela modorra doce

De mel apelidada

Onde a lua é invocada

Inevitável

A geometria variável

Do coração

Aos costumes dirá não

Reconquistarei o passado

Ou presente adiado

E juro

Que o farei futuro

Sem fotógrafos apressados

Nem gula nem convidados

Amor prazer

Por te voltar a ter


Breve desresponsabilização (citando um fragmento de Autopsicografia de Fernando Pessoa):

 

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

ACREDITAR!

Encontro inesperado

No local mais improvável

O mesmo ar afável

O mesmo sorriso rasgado

Mas senti que era diferente

Menos seguro o seu caminhar

Menos brilhante o seu olhar

Amigo atento nota sempre

E ainda que o sofrimento

Seja algo indefinido

Ou apenas pressentido  

Senti-o nesse momento

Como a bruma matinal

Na despedida do Verão

Pressagiando a transição

Para a estação outonal

Mais tarde nesse dia

Tive concreta explicação

Na conversa que travamos

Recusei apreensão

E consensualizamos

Que quem avaliasse só podia

Definitivamente dizer não

Se da amiga o coração

Porventura periclita

O dos amigos incita

No meu léxico minha querida

Desânimo é palavra banida

Outra acabo de inventar

Acreditar

 

Escrito em 14 de Setembro.

(Um gesto de solidariedade para com uma amiga muito querida, a braços com uma dúvida sobre a sua saúde – que espero, ou melhor, que acredito, não virá a confirmar-se!)

MORRER DE NOVO...

Desci

mergulhei imergi

toquei bem no fundo

do teu eu mais profundo

(ou será que emergi

por estar abaixo de ti)

sobrevivi

(eu acho que morri)

deixando-me queimar

ou afogar

no teu magma no teu mar

impossível viver sem ti

caminho

em terreno aberto

o passo incerto

que mesmo sem escolhos

me faltam teus olhos

para ver o caminho

repouso

mas no meu sono agitado

há um desejo inconfessado

por isso ouso

voltar a imergir e morrer

(ou renascer)

desço

e de novo em ti

esqueço que imergi

e permaneço

dói tanto o recobro

que não quero emergir de novo

 

MAPA DE TI...

 

Mapa de uma estrada

Mil vezes percorrida

Noite mal dormida

Melodia inacabada

Ponto de partida

Aurora boreal

Apelo matinal

De libido renascida

Dedilho teus cabelos

Dó-ré-mi solfejo

Fá-sol e só desejo

Que escutes meus apelos

Lá-si e recomeço

O solfejo é mesmo assim

Si de ti mi de mim

Na meia encosta de ti

Respiração inconstante

Paro por um instante

Vivo ainda ou morri

Mas não faz sentido

A dúvida que me assalta

Se eu sinto a tua falta

Como posso ter morrido

Volto ao mapa da estrada

Ao teu corpo fremente

E fica de novo urgente

Reiniciar a escalada

Desde o ponto de partida

Porque a aurora boreal

Ou este vigor matinal

Não vão durar toda a vida

 

DEVAGAR, COMO QUEM CORRE...


Enlaças-me apertas-me

Como trepadeira ao seu tutor

E gemes imploras ou ordenas

Que venha depressa que voe

Mas eu não vou nem voo

Nem podia fazê-lo

Porque já estou

Precoce cheguei

Mesmo sem me apressar

Dez vezes dez contei

Devagar como quem corre

Sobre a corda bamba

Qual funâmbulo sem o ser

Correndo o risco de cair

Cavalguei o nada

Que antes de ti

Era apenas o verbo

E chegado ao fim da linha

À última estação

Sem te ver a meu lado

Entre o desistir

E viajar noutro dia

Decidi esperar por ti

Até que chegaste

Me enlaçaste me apertaste

Ascendeste sobre o meu cansaço

Ordenaste que fosse e eu fui

Como se fosse a vez primeira

Dez vezes dez contei

Como da primeira vez

E voei como ave marinha

Voo mergulho voo mergulho

Dez vezes dez contei

E retemperados (ou cansados) chegamos!

 

FIM DE ESTAÇÃO...

Ainda consigo lembrar
Na ténue rebentação
Das ondas do teu mar
Quando ouso mergulhar
Cada vez mais fugaz
O meu olhar
Bem no fundo de ti
Aquela outra maré
Em que perdi o pé
E a razão
Mas os bramidos
Da tua preia-mar
Ou os gemidos
Do teu amainar
Que faziam a rotina
De todos os dias
Já não fazem soar
Trombetas celestiais
E  até no céu
Do teu olhar
E também do meu
Aos alvores matinais
Tolda-os agora um véu
De névoa fria
O cheiro a maresia
Começa a dar lugar
Ao odor mais denso
E menos apelativo
Da terra molhada
O sol que nasce em ti
Brilha menos intenso
E copia do  Astro Rei
O gesto furtivo
Da carícia roubada
Ou não consumada
É a mudança de Estação
Porque também o amor
Tal como o Verão
Perde o fulgor
De forma natural
Só que mais radical
Definitivo e fatal
Porque neste caso o processo
Não tem forma de regresso

(Inspirado em partes iguais, no relembrar de vidas passadas e na observação atenta da imensidão deste mar de Vila Praia de Âncora em finais de Agosto deste ano de 2009)

QUASE NADA...

Mil vezes tentei
E outras tantas desisti
Quase fiquei
Quase parti
Mas só quando quebrei
A dependência de ti
E me libertei
Percebi
Que quase nada
Mantinha a chama
E esta apagada
Resta a quem ama
Pouco mais que nada
Acabamos pois com tudo
(Afinal quase nada)
Parti mudo
E tu calada
Afinal para termos tudo
Faltou só um quase nada
De tudo...

DÚVIDAS...

Hesito...
Entre o dinâmico vai - vem
Ou a estática que me retém
E fico
Porém
Tal como a água da levada
Não move moinhos parada
Também
Parado
À espera que aconteça
Ou que o forno aqueça
Apagado
Equivale
Ainda que mal comparado
A querer ter-te a meu lado
Divinal
Palpitante
Sem te ter cortejado
Sem me fazer amado
E neste instante
Já não hesito!