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POETIZANDO
Poesia pode ser
Um corpo de mulher
Feito porto de abrigo
Ou local de perigo
O teu é tudo isso
E tanto mais omisso
A arte de navegar
Adivinhando o mar
E todos os escolhos
No mapa dos teus olhos
Mas também pode ser
O inefável prazer
A escondida harmonia
Na musical cacofonia
Do bucólico dealbar
Ou este versejar
Tentando lembrar
Que hoje é o dia
Dedicado à poesia
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Tu és
Aquela vez
Aquele céu
Meu e teu
Vulcão
Explosão
Princípio e fim
De ti e de mim
Em ti
Morri e renasci
Cem vezes uma vez
Ou mil vezes mil talvez
Tântrico fogo lento
A vida num momento
Aventura omitida
Música preferida
Tu és
O meu arnês
Na íngreme escalada
A bebida partilhada
Tu és
O meu dia de cada vez
Meu porto de abrigo
A bênção que bendigo
Mas também o pecado
Jamais revelado
Tu és
Um sonho talvez
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No sopé do teu ventre
Venço o quase impubescente
Triângulo das Bermudas
Ou quando te desnudas
De ti simplesmente
E aporto finalmente
Das colinas a montante
Onde me acolhi ofegante
Jorra a luz dos teus olhos
Iluminando os escolhos
Por onde naveguei
E a jusante rumei
Até chegar aqui
Ao epicentro de ti
Ao teu porto de abrigo
Onde já não corro perigo
E onde até descobri
Que afinal não morri
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Bem me quer mal me quer
Mulher
Se for esse o teu querer
Morrer
Morrerei contigo
Digo
Nada aos costumes
Gumes
São dois os da espada
Afiada
Do teu e meu querer
Viver
Acompanhas-me no segundo
Mundo
É o nosso destino
Rimo
A dor de te não ter
Mulher
Quero se tu quiseres
Queres
Desafiar o meu querer
Viver
Mal me quer bem me quer
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Nos teus olhos a negação
Pode ser percalço
Porém vou no encalço
E em reflexa reacção
Transformo o teu não
Onde adivinho indecisão
Em lenta degustação
Em deleitada fruição
Ainda contida
Mas agora consentida
Progressão
Palpação
Avaliação
E na clara percepção
Da tua palpitação
Diagnostico e prescrevo
A medicação
Porque o não
Nunca foi mesmo opção
Prolongamos a contenção
Do tântrico momento
Num século de fruição.
Até à ignição
À explosão
À combustão
Um minuto mil um milhão
Precedem a exaustão
Ou não
Porque a todo o momento
O reacendimento
Pode ocorrer
Se activo permanecer
O triângulo de fogo
(Tu e eu combustível
Eu e tu comburente
E calor de nós dois)
Só haverá epílogo
Quando um dos dois
Aceitar o depois
Isto se não acontecer
Que entre o querer e o poder
Inesperada
Incontrolada
A triangular combustão
Vire tetraédrica reacção
Que nem o mútuo querer
Seja capaz de conter
(E sendo assim
O teu sim
Ou teu não
O meu não
Ou o meu sim
Deixam de ser opção)
Uma abordagem poética sobre a definição conceptual da química do fogo (a minha 'costela' de formador na prevenção de incêndios...).
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Manietas-me
Com a seda dos teus cabelos
Preenches
As breves horas do meu sono
Sonho
Que te deitas a meu lado
Aqueço-me
Na tua cútis em brasa
Sonâmbulo
Percorro-te a periferia
Tateio
Imaginários contornos
Exploro
Um venusiano monte
Inspiro
No cimo de duas colinas
Desperto
E a eréctil solidão
Ocupa
A cama pela metade
Vazio
Está o espaço ao lado
Concluo
Que sonhei
Porque não encontrei
Cabelos
Calor
Sinais de vénus
Colinas
Apenas te inventei
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Fica a leste do paraíso
Onde céu terra e mar
Anoitecer e dealbar
Se juntam no teu sorriso
Pego a vaga maior
Até ao topo do mundo
E ao teu centro fecundo
Acolho-me no teu calor
E bem lá no fundo
Em tântrica apneia
A decisão titubeia
Por um milissegundo
Tateio-te no escuro
E emergindo de ti
Descubro que é aí
Que presente e futuro
Se hão-de misturar
No sopé das tuas dunas
No teu cais das colunas
Na orla do teu mar
Aí estará o meu nirvana
Ao sorver na tua pele
Com leve toque de mel
A sudorípara tisana
És
Minha musa inspiradora
Senhora
Do fogo dos meus sentidos
Deusa
Das preces que rezo
Fada
Do bosque onde caminho
Ave
Meu Pássaro de Fogo
Sereia
Do mar onde navego
Música
Meu Lago dos Cisnes
Ícone
No altar que te erigi
Sonho
Do meu sono não dormido
Chão
Onde encontro equilíbrio
Cálice
Das minhas libações
Maná
No deserto que percorro
Néctar
Que me sacia a sede
És
Tudo o que tenho
Tens
Tudo o que preciso
És
O que me faz viver
Tens
A chave da minha vida
És
A minha eterna tulipa
És
A MULHER
Pressinto-te
No éter que nos separa
Ausente presente
Distante dentro de mim
E no hálito da noite cálida
Saboreio os teus imaginários beijos
Inalo da tua pele
O perfume da alfazema
Toco-te na minha mente
Mútua dádiva total
Dizem-mo os teus olhos
Na luz das estrelas
E no sorriso da Lua maior
E depois do amor
Acolho-me na tua foz
Desaguo no teu mar
Novo frémito nos percorre
Recíproca vontade
De repetir o percurso
De regressar à nascente
O teu mar de fogo na minha pele
Abraço-te na minha mente
Num amplexo ardente
Percorro-te de novo
De olhos fechados
Sorvo em ti na caminhada
O inconfundível néctar
Misto de sal e mel
Contenho-me nas margens
Neste tântrico caminhar
Sem pressa de chegar
E de novo a tua foz
Me acolhe cansado
Embalas-me nas tuas ondas
Cantas-me a canção
Das mil e uma noites de verão
Desperto do sonho
E durmo acordado
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Acordo
Do sono que não dormi
Assomo á janela de ti
Sorvo a tua madrugada
Ascendo à tua cumeada
Dormes
Vence-me a exaustão
Deito-me no teu chão
De cútis orvalhada
Anseio por ti acordada
Durmo
O que resta da madrugada
Breve instante quase nada
Acorda-me o aroma a café e pão
És tu de tabuleiro na mão
Provo
A mistura de mel e canela
Na tua boca que sabe a ela
Habituaste-me a gostar
Mas tenho sempre de provar
Saciados
Vamos ter de negociar
E uma vez mais optar
Entre manter a chama
Ou arrumar a cama
Optamos...