Nuvem
Inoportuna Interposição
Entre o meu sim e o teu não
Barreira
Cabeça e coração
Velocidade e travão
Conflito
Desejo inibição
Imposta rejeição
Correlação
No nosso desigual querer
Sofrida hesitação
A que leio no teu não
Difícil a opção
Entre céu e razão
Sim ou talvez não
Impõe-se a mente
Claudica o coração
E fora de questão
Fica o meu querer
Amor desejo prazer
Deixarão pois de ser
A única opção
Se com isso eu puder
Amar-te sem te ter
O poeta é um desalinhado: no monogâmico mundo civilizado, ele é o único a poder por 'direito natural', repartir a alma e o coração com vários seres amados, em simultâneo.
O poeta nunca trai porque ama com a alma, mesmo quando a alma é todo o seu corpo fremente...
És
Minha musa inspiradora
Senhora
Do fogo dos meus sentidos
Deusa
Das preces que rezo
Fada
Do bosque onde caminho
Ave
Meu Pássaro de Fogo
Sereia
Do mar onde navego
Música
Meu Lago dos Cisnes
Ícone
No altar que te erigi
Sonho
Do meu sono não dormido
Chão
Onde encontro equilíbrio
Cálice
Das minhas libações
Maná
No deserto que percorro
Néctar
Que me sacia a sede
És
Tudo o que tenho
Tens
Tudo o que preciso
És
O que me faz viver
Tens
A chave da minha vida
És
A minha eterna tulipa
És
A MULHER
Pressinto-te
No éter que nos separa
Ausente presente
Distante dentro de mim
E no hálito da noite cálida
Saboreio os teus imaginários beijos
Inalo da tua pele
O perfume da alfazema
Toco-te na minha mente
Mútua dádiva total
Dizem-mo os teus olhos
Na luz das estrelas
E no sorriso da Lua maior
E depois do amor
Acolho-me na tua foz
Desaguo no teu mar
Novo frémito nos percorre
Recíproca vontade
De repetir o percurso
De regressar à nascente
O teu mar de fogo na minha pele
Abraço-te na minha mente
Num amplexo ardente
Percorro-te de novo
De olhos fechados
Sorvo em ti na caminhada
O inconfundível néctar
Misto de sal e mel
Contenho-me nas margens
Neste tântrico caminhar
Sem pressa de chegar
E de novo a tua foz
Me acolhe cansado
Embalas-me nas tuas ondas
Cantas-me a canção
Das mil e uma noites de verão
Desperto do sonho
E durmo acordado
Amor dor amor prazer
Dor de te não ter
Por auto imposição
Por abdicação
Prazer
Se às convenções disser não
Se escolher a emoção
Amor dividido
Entre o amor proibido
E o que nos é permitido
No contrato promessa
Assumido na pressa
De fotógrafos apressados
Da gula dos convidados
Mas amor que fosse
Naquela modorra doce
De mel apelidada
Onde a lua é invocada
Inevitável
A geometria variável
Do coração
Aos costumes dirá não
Reconquistarei o passado
Ou presente adiado
E juro
Que o farei futuro
Sem fotógrafos apressados
Nem gula nem convidados
Amor prazer
Por te voltar a ter
Breve desresponsabilização (citando um fragmento de Autopsicografia de Fernando Pessoa ):
O poeta é um fingidor. Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente.