FIM DE ESTAÇÃO...
Ainda consigo lembrar
Na ténue rebentação
Das ondas do teu mar
Quando ouso mergulhar
Cada vez mais fugaz
O meu olhar
Bem no fundo de ti
Aquela outra maré
Em que perdi o pé
E a razão
Mas os bramidos
Da tua preia-mar
Ou os gemidos
Do teu amainar
Que faziam a rotina
De todos os dias
Já não fazem soar
Trombetas celestiais
E até no céu
Do teu olhar
E também do meu
Aos alvores matinais
Tolda-os agora um véu
De névoa fria
O cheiro a maresia
Começa a dar lugar
Ao odor mais denso
E menos apelativo
Da terra molhada
O sol que nasce em ti
Brilha menos intenso
E copia do Astro Rei
O gesto furtivo
Da carícia roubada
Ou não consumada
É a mudança de Estação
Porque também o amor
Tal como o Verão
Perde o fulgor
De forma natural
Só que mais radical
Definitivo e fatal
Porque neste caso o processo
Não tem forma de regresso
(Inspirado em partes iguais, no relembrar de vidas passadas e na observação atenta da imensidão deste mar de Vila Praia de Âncora em finais de Agosto deste ano de 2009)