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TERRA MOLHADA

PROMESSA DE FRUTOS MADUROS, DE ABUNDANTES COLHEITAS... BÊNÇÃO DAS PRIMEIRAS CHUVAS DE VERÃO... DOCE PERFUME DE TERRA MOLHADA...

TERRA MOLHADA

PROMESSA DE FRUTOS MADUROS, DE ABUNDANTES COLHEITAS... BÊNÇÃO DAS PRIMEIRAS CHUVAS DE VERÃO... DOCE PERFUME DE TERRA MOLHADA...

LIBAÇÕES EM CAMA DE CEREJAS

Captura de ecrã 2016-02-29, às 14.19.46.png

 

Libações em cama de cerejas...

Eu quero ser

o teu querer

de Ravel o teu Bolero

e também quero

ser o teu mar

água terra fogo e ar

interlúdio musical

aurora boreal

quero que sejas

a taça de cerejas

daquele Maio distante

a libação de espumante

servida em ti

e onde imergi

no teu efervescer

ouses tu querer

tal como eu quero

e serás o meu Bolero

a minha Quinta Sinfonia

a Ode à Alegria

e a única se quiseres

Entre todas as mulheres

que tentei amar

à força de te buscar

 

Celestino Neves - Fevereiro de 2016

 

 

 

 

 

 

INSÓNIA...

Noite pequenina

Plena de espertina

De sonho arredio

E sono tardio

Mil vezes tentado

Mil vezes falhado

Porque o mocho e a cotovia

Donos da noite e do dia

Só me falavam de ti

Desisti

Acendi a alvorada

Na esquina da madrugada

Roubei à brisa lasciva

A memória olfactiva

Que guardava de ti

E decidi

Adormecer a fantasia

Num afago de água fria

Ascendi à açoteia

Agarrei a lua cheia

E roubei-lhe uma fatia

Polvilhei-a de maresia

Saboreei devagar

E antes de voltar

À cama vazia

Agarrei uma fugidia

Madeixa de luar

Que virou raio solar

Zangada pela ousadia

Foi uma noite de cansaços

De lassos abraços

Plena de nada

Onde até a almofada

Extenuada quanto eu

Ao carinho meu

Se fez de rogada

 

 

(Celestino Neves – editado em 25 de Janeiro de 2015)

 

 

 

 

 

 

'POETIZADOR' EU SOU...

 

 

POETIZANDO

 

Poesia pode ser

Um corpo de mulher

Feito porto de abrigo

Ou local de perigo

O teu é tudo isso

E tanto mais omisso

A arte de navegar

Adivinhando o mar

E todos os escolhos

No mapa dos teus olhos

Mas também pode ser

O inefável prazer

A escondida harmonia

Na musical cacofonia

Do bucólico dealbar

Ou este versejar

Tentando lembrar

Que hoje é o dia

Dedicado à poesia

UM SONHO TALVEZ...


Tu és

Aquela vez

Aquele céu

Meu e teu

Vulcão

Explosão

Princípio e fim

De ti e de mim

Em ti

Morri e renasci

Cem vezes uma vez

Ou mil vezes mil talvez

Tântrico fogo lento

A vida num momento

Aventura omitida

Música preferida

Tu és

O meu arnês

Na íngreme escalada

A bebida partilhada

Tu és

O meu dia de cada vez

Meu porto de abrigo

A bênção que bendigo

Mas também o pecado

Jamais revelado

Tu és

Um sonho talvez

PORTO DE ABRIGO

No sopé do teu ventre

Venço o quase impubescente

Triângulo das Bermudas

Ou quando te desnudas

De ti simplesmente

E aporto finalmente

Das colinas a montante

Onde me acolhi ofegante

Jorra a luz dos teus olhos

Iluminando os escolhos

Por onde naveguei

E a jusante rumei

Até chegar aqui

Ao epicentro de ti

Ao teu porto de abrigo

Onde já não corro perigo

E onde até descobri

Que afinal não morri

MALMEQUERES


Bem me quer mal me quer

Mulher

Se for esse o teu querer

Morrer

Morrerei contigo

Digo

Nada aos costumes

Gumes

São dois os da espada

Afiada

Do teu e meu querer

Viver

Acompanhas-me no segundo

Mundo

É o nosso destino

Rimo

A dor de te não ter

Mulher

Quero se tu quiseres

Queres

Desafiar o meu querer

Viver

Mal me quer bem me quer

TETRAEDRO DE FOGO...

REC_1.png

Nos teus olhos a negação

Pode ser percalço

Porém vou no encalço

E em reflexa reacção

Transformo o teu não

Onde adivinho indecisão

Em lenta degustação

Em deleitada fruição

Ainda contida

Mas agora consentida

Progressão

Palpação

Avaliação

E na clara percepção

Da tua palpitação

Diagnostico e prescrevo

A medicação

Porque o não

Nunca foi mesmo opção

Prolongamos a contenção

Do tântrico momento

Num século de fruição.

Até à ignição

À explosão

À combustão

Um minuto mil um milhão

Precedem a exaustão

Ou não

Porque a todo o momento

O reacendimento

Pode ocorrer

Se activo permanecer

O triângulo de fogo

(Tu e eu combustível 

Eu e tu comburente

E calor de nós dois)

Só haverá epílogo

Quando um dos dois

Aceitar o depois

Isto se não acontecer

Que entre o querer e o poder

Inesperada

Incontrolada

A triangular combustão

Vire tetraédrica reacção

Que nem o mútuo querer

Seja capaz de conter

(E sendo assim

O teu sim

Ou teu não

O meu não 

Ou o meu sim

Deixam de ser opção)


Uma abordagem poética  sobre a definição conceptual da química do fogo (a minha 'costela' de formador na prevenção de incêndios...).

DESPERTAR...

Manietas-me

Com a seda dos teus cabelos

Preenches

As breves horas do meu sono

Sonho

Que te deitas a meu lado

Aqueço-me

Na tua cútis em brasa

Sonâmbulo

Percorro-te a periferia

Tateio

Imaginários contornos

Exploro

Um venusiano monte

Inspiro

No cimo de duas colinas

Desperto

E a eréctil solidão

Ocupa

A cama pela metade

Vazio

Está o espaço ao lado

Concluo

Que sonhei

Porque não encontrei

Cabelos

Calor

Sinais de vénus

Colinas

Apenas te inventei

O TEU SORRISO

Fica a leste do paraíso

Onde céu terra e mar

Anoitecer e dealbar

Se juntam no teu sorriso

Pego a vaga maior

Até ao topo do mundo

E ao teu centro fecundo

Acolho-me no teu calor

E bem lá no fundo

Em tântrica apneia

A decisão titubeia

Por um milissegundo

Tateio-te no escuro

E emergindo de ti

Descubro que é aí

Que presente e futuro

Se hão-de misturar

No sopé das tuas dunas

No teu cais das colunas

Na orla do teu mar

Aí estará o meu nirvana

Ao sorver na tua pele

Com leve toque de mel

A sudorípara tisana

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

EQUILÍBRIO INSTÁVEL

Nuvem

Inoportuna Interposição

Entre o meu sim e o teu não

Barreira

Cabeça e coração

Velocidade e travão

Conflito

Desejo inibição

Imposta rejeição

Correlação

No nosso desigual querer

Sofrida hesitação

A que leio no teu não

Difícil a opção

Entre céu e razão

Sim ou talvez não

Impõe-se a mente

Claudica o coração

E fora de questão

Fica o meu querer

Amor desejo prazer

Deixarão pois de ser

A única opção

Se com isso eu puder

Amar-te sem te ter


O poeta é um desalinhado: no monogâmico mundo civilizado, ele é o único a poder por 'direito natural', repartir a alma e o coração com vários seres amados, em simultâneo. 

O poeta nunca trai porque ama com a alma, mesmo quando a alma é todo o seu corpo fremente...